

uma espécie de diário visual, emotivo e muito pessoal, sobre até onde a cozinha me pode levar
















(...) God of heaven theres nothing like nature the wild mountains then the sea and the waves rushing then the beautiful country with fields of oats and wheat and all kinds of things and all the fine cattle going about that would do your heart good to see rivers and lakes and flowers all sorts of shapes and smells and colours springing up even out of the ditches primroses and violet (...) Molly Bloom in Ulisses de James Joyce

















Ai o que eu gosto do outono. E pelos vistos a "rapaziada da cozinha" (como diria Maria de Lourdes Modesto), também está de olho nesta estação. É vê-los por esses campos, de cesta numa mão e Opinel na outra, aos devoradores de cogumelos. E de máquina ao pescoço ou no bolso, conforme se é jornalista ou chef. E a propósito, o meu prémio de fotografia na net vai para o Chef Vincent Farges, qual Jean Renoir em La Règle du Jeu. Resta-me comer com os olhos e devorar com a máquina os cogumelos que eles me deixaram porque não os podem comer. A Natureza é uma grande fonte de inspiração. Tanta coisa mesmo à frente dos nossos olhos. Não admira que depois dos inúmeros movimentos técnicos e estéticos da cozinha, os Chefs comecem a reproduzi-la de uma forma cada vez mais realista nas suas criações. Este foi o meu almoço algures no Vale do Bestança, um menu de degustação que a Chef Natureza com a colaboração do sub-Chef Outono me ofereceram. A ovelha fez-me companhia.




O cozido é um prato onde não há truques. É como dizem por aí uns quantos Chefs: ou é bom ou é mau. Este era dos bons. Até choro quando penso nele. As carnes eram perfeitas, já vinham salgadas do talho, as couves eram da horta da Glória e os restantes ingredientes de ali, das redondezas. Nunca me irei esquecer deste cozido e muito menos de todas as partes gelatinosas que comi, com tal prazer, só comparável ao que sinto quando olho aquela paisagem emoldurada pela janela.





O que é certo é que nunca tinhamos visto o João Pedro tão bem disposto. Foi quando ele começou a fazer o cozido que percebemos a razão de tamanha felicidade. O que uma ida a um talho de Cinfães pode fazer por uma pessoa. Andou três dias com um sorriso de orelha a orelha. As dele, que as do porco comemo-las todas. Ele que refila sempre, até me disse: — "Fotografa, fotografa que os leitores do meu blog nem vão acreditar que eu trabalho na cozinha."