uma espécie de diário visual, emotivo e muito pessoal, sobre até onde a cozinha me pode levar
o outono em pequim
O meu amigo João Pedro veio experimentar a cozinha caseira chinesa aqui do bairro. O prato mais excitante que tínhamos para escolher era línguas de pato fritas. Ficámos a saber que a língua de um pato tem uma cartilagem e um osso. A um local destes o ideal é vir com um amigo que fale chinês e português, só assim será possível ter acesso à ementa em chinês onde a escolha se torna muito mais interessante.
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o meu almoço
o outono em lisboa
E assim vou passando o outono em Lisboa. Um brunch em casa da vizinha com tamales que uma amiga mexicana lhe ensinou a fazer. Dividimos o interior de cada um dos lindos embrulhos de folhas de milho e de bananeira. Saboreio a galinha com chocolate enquanto ouço a descrição detalhada do processo de construção dos tamales. Vemos fotografias da pequena cozinha onde várias mulheres de várias nacionalidades passaram a tarde do dia anterior a partilhar as suas vidas, na linguagem universal que é a cozinha. É como se estivesse estado lá. Aprendo a fazer uma lanterna com a casca de uma tangerina. Corta-se a casca ao meio no sentido horizontal e retira-se a metade superior com cuidado para deixar o filamento interior do fruto intacto, o pavio. Enche-se a metade inferior com azeite e eis uma lamparina. O João chega de Paris com um queijo de cabra fresco na mão e eu que moro ao lado não vou soprar o balão. Enfim, uma tarde frutífera.
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tamales
home sweet home
(...) God of heaven theres nothing like nature the wild mountains then the sea and the waves rushing then the beautiful country with fields of oats and wheat and all kinds of things and all the fine cattle going about that would do your heart good to see rivers and lakes and flowers all sorts of shapes and smells and colours springing up even out of the ditches primroses and violet (...) Molly Bloom in Ulisses de James Joyce
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Vale do Bestança
devoradores de cogumelos
Ai o que eu gosto do outono. E pelos vistos a "rapaziada da cozinha" (como diria Maria de Lourdes Modesto), também está de olho nesta estação. É vê-los por esses campos, de cesta numa mão e Opinel na outra, aos devoradores de cogumelos. E de máquina ao pescoço ou no bolso, conforme se é jornalista ou chef. E a propósito, o meu prémio de fotografia na net vai para o Chef Vincent Farges, qual Jean Renoir em La Règle du Jeu. Resta-me comer com os olhos e devorar com a máquina os cogumelos que eles me deixaram porque não os podem comer. A Natureza é uma grande fonte de inspiração. Tanta coisa mesmo à frente dos nossos olhos. Não admira que depois dos inúmeros movimentos técnicos e estéticos da cozinha, os Chefs comecem a reproduzi-la de uma forma cada vez mais realista nas suas criações. Este foi o meu almoço algures no Vale do Bestança, um menu de degustação que a Chef Natureza com a colaboração do sub-Chef Outono me ofereceram. A ovelha fez-me companhia.
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Vincent Farges
o meu almoço
O cozido é um prato onde não há truques. É como dizem por aí uns quantos Chefs: ou é bom ou é mau. Este era dos bons. Até choro quando penso nele. As carnes eram perfeitas, já vinham salgadas do talho, as couves eram da horta da Glória e os restantes ingredientes de ali, das redondezas. Nunca me irei esquecer deste cozido e muito menos de todas as partes gelatinosas que comi, com tal prazer, só comparável ao que sinto quando olho aquela paisagem emoldurada pela janela.
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Quinta da Ventozela
o estado do cozido à portuguesa
O que é certo é que nunca tinhamos visto o João Pedro tão bem disposto. Foi quando ele começou a fazer o cozido que percebemos a razão de tamanha felicidade. O que uma ida a um talho de Cinfães pode fazer por uma pessoa. Andou três dias com um sorriso de orelha a orelha. As dele, que as do porco comemo-las todas. Ele que refila sempre, até me disse: — "Fotografa, fotografa que os leitores do meu blog nem vão acreditar que eu trabalho na cozinha."
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Quinta da Ventuzela
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