um thy ro certeiro







O António Gomes e o Zé Albergaria, quando os conheci ainda frequentavam a escola de Belas-Artes. Foi quando formaram os barbara says. Sempre gostei do que faziam e o tempo que dista dessa altura apenas serviu para confirmar como eles continuam a ser excelentes designers gráficos. E como alguns vinhos, ficaram ainda melhores. O Zé foi viver para Paris e nunca mais o vi. Foi agora em casa dos meus amigos e vizinhos, Cláudia e António que reencontrei o Zé e o mais engraçado é que de outras formas também eles estão ligados à cozinha. Para o jantar o António preparou borrego no forno com batatinhas assadas e grelos salteados. Havia queijos, presunto, da melhor alheira de Trás-os-Montes acompanhada com laranja temperada com azeite e alho entre outras coisas, talvez influenciado pela revista Ouro Virgem. E o Zé Albergaria não lhe fica atrás pois foi um dos que fez o grafismo do livro Coco editado pela Phaidon. Está tudo ligado. Ao jantar bebemos um vinho do Douro cuja imagem gráfica foi feita pelo próprio António, o Thy ro.E assim se matam as saudades.

doce de abóbora

Enquanto a G11, a máquina que alimenta este blog se encontra hospitalizada, dedico-me a fazer doce de abóbora, para não esmorecer. O da primeira abóbora correu muito bem, ficou no ponto certo e com uma linda cor. O da segunda abóbora, foi feito depois de ler o e-mail que os Srs da Canon me enviaram a dizer que a garantia afinal não cobria a reparação e incluia o respectivo orçamento. Não concordo com eles, mas quem tem a faca e o queijo na mão é quem manda. Vai daí deixei o doce passar do ponto e até começou a queimar. Enfim, uma desgraça nunca vem só.

uma receita de broas

São as broas que a minha amiga Elsa faz todos os anos por altura dos Santos, Todos-os-Santos. São as melhores broas que comi. Rijas mas fáceis de trincar. Sem fruta cristalizada, só frutos secos e passas. Do sabor nem se fala. Mal provei estas broas pensei que tinha de conseguir a receita e partilhá-la, ou seja, publicá-la. Resolvi ligar à autora, preparada para lhe dar a volta com argumentos que lhe tocassem o coração. Para meu espanto acedeu de imediato. Não é que eu desconfie da fartura, não senhor. Eu acredito que a receita é aquela que ela me deu. Acredito mesmo que as quantidades são aquelas. E foi bastante verosímil na forma como descreveu os processos da execução das broas. E de como foi mudando a receita que era da mãe suprimindo as frutas cristalizas e acrescentando outras coisas como as castanhas do Maranhão. Por isso eu sei que a receita está certa mesmo sem a ter experimentado. Mas também conheço a Elsa e os seus excelentes cozinhados e sei como ela cozinha. A receita das broas é daquelas que me faz medo. E não é por saber que a Elsa faz tudo a olho e ainda dá um toque pessoal. Esta receita é das que parece que é pesar e medir bem os ingredientes, mas não é. Tem o saber unir aquilo tudo acrescentado farinha ou água para que a massa fique no ponto certo, se descole do recipiente e das mãos. E o forno. Isto tudo requer olho e treino. Assim que puder arranjo uma tarde livre, para me dedicar a fazer estas broas. Parece-me uma boa ideia para oferta de natal.


Broas da avó Elsa

4 K de farinha

0,5 l de óleo Becel

4 colheres de sopa de fermento em pó

1 l de leite

300 g de erva doce

150 g de canela

8 ovos inteiros

½ garrafa de anis

Frutos secos:

passas, pinhões, nozes, avelãs, amêndoas, castanhas do Maranhão

Amasse todos os ingredientes excepto os frutos secos. A massa deve ficar bem solta do recipiente e não se deve colar às mãos. Se tal acontecer adicione mais farinha. Por fim, misture os frutos secos, as passas e os pinhões inteiros e todos os outros partidos em pequenos pedaços. Quantos mais frutos secos levarem melhores ficam as broas. Se gostar pode também usar alguma fruta cristalizada. Para moldar, retire uma colher de sopa de massa e molde uma bola com as mãos. Coloque no tabuleiro polvilhado com farinha, não muito próximas umas das outras para não colarem. Leve ao forno a 180ºC até cozerem, com atenção para que não fiquem demasiado duras. Esta receita é em quantidade para uma família grande. Pode sempre fazer metade, menos é que não vale a pena, porque são muito boas. E pode congelá-las como costuma fazer a avó Elsa que nos deu esta preciosa receita.


(esta receita foi publicada na NM de 14/11/2010)

o outono em pequim






O meu amigo João Pedro veio experimentar a cozinha caseira chinesa aqui do bairro. O prato mais excitante que tínhamos para escolher era línguas de pato fritas. Ficámos a saber que a língua de um pato tem uma cartilagem e um osso. A um local destes o ideal é vir com um amigo que fale chinês e português, só assim será possível ter acesso à ementa em chinês onde a escolha se torna muito mais interessante.

o outono em lisboa



E assim vou passando o outono em Lisboa. Um brunch em casa da vizinha com tamales que uma amiga mexicana lhe ensinou a fazer. Dividimos o interior de cada um dos lindos embrulhos de folhas de milho e de bananeira. Saboreio a galinha com chocolate enquanto ouço a descrição detalhada do processo de construção dos tamales. Vemos fotografias da pequena cozinha onde várias mulheres de várias nacionalidades passaram a tarde do dia anterior a partilhar as suas vidas, na linguagem universal que é a cozinha. É como se estivesse estado lá. Aprendo a fazer uma lanterna com a casca de uma tangerina. Corta-se a casca ao meio no sentido horizontal e retira-se a metade superior com cuidado para deixar o filamento interior do fruto intacto, o pavio. Enche-se a metade inferior com azeite e eis uma lamparina. O João chega de Paris com um queijo de cabra fresco na mão e eu que moro ao lado não vou soprar o balão. Enfim, uma tarde frutífera.

home sweet home



(...) God of heaven theres nothing like nature the wild mountains then the sea and the waves rushing then the beautiful country with fields of oats and wheat and all kinds of things and all the fine cattle going about that would do your heart good to see rivers and lakes and flowers all sorts of shapes and smells and colours springing up even out of the ditches primroses and violet (...) Molly Bloom in Ulisses de James Joyce

devoradores de cogumelos












Ai o que eu gosto do outono. E pelos vistos a "rapaziada da cozinha" (como diria Maria de Lourdes Modesto), também está de olho nesta estação. É vê-los por esses campos, de cesta numa mão e Opinel na outra, aos devoradores de cogumelos. E de máquina ao pescoço ou no bolso, conforme se é jornalista ou chef. E a propósito, o meu prémio de fotografia na net vai para o Chef Vincent Farges, qual Jean Renoir em La Règle du Jeu. Resta-me comer com os olhos e devorar com a máquina os cogumelos que eles me deixaram porque não os podem comer. A Natureza é uma grande fonte de inspiração. Tanta coisa mesmo à frente dos nossos olhos. Não admira que depois dos inúmeros movimentos técnicos e estéticos da cozinha, os Chefs comecem a reproduzi-la de uma forma cada vez mais realista nas suas criações. Este foi o meu almoço algures no Vale do Bestança, um menu de degustação que a Chef Natureza com a colaboração do sub-Chef Outono me ofereceram. A ovelha fez-me companhia.